terça-feira, 8 de julho de 2008

Ciudad Alfaro

Ciudad Alfaro, 8 de Julho de 2008

Aos olhos de um Alfaro dourado sinto uma enorme alegria. Neste momento de corpo presente vejo a nova redação da Carta Magna do Equador. Para os desinformados, é a nova constituição que neste momento é reescrita.

Um trabalho gigantesco de alterar as questões mais enraizadas que determinaram o antigo futuro de uma pequena nação de 12 milhões de pessoas, com vulcões, galapagos e amazônia. Aqui neste paizinho aconteceram grandes fatos da história que influenciaram o que hoje conhecemos como América Latina hispana. Que faz fronteira com o Brasil, mas é distante todo um oceano.

Esta constituição inclui uma redefinição da composição cultural do país. Quíchuas, Shuares, Negros, Montúbios, Brancos serão considerados nações, e como tal serão tratadas de maneiras especiais já que possuem idiomas, identidades e desempenham papéis únicos na economia do país. Esta nova constituição não discrimina o aborto, legaliza a relação estável entre pessoas do mesmo sexo. Existem particularidades do país que nem adiantaria querer explicar, mas que a sua discussão e forma processual de inserção já colocam uma pedra fundamental no caminho da América Latina rumo a algum lugar que ainda não sei qual é. Mas que com certeza será melhor do que ontem. Não é esquerda e direita. É a preservação de uma cultura e do meio ambiente que se discute.

Hoje pela manhã acordei com os telejornais informando o povo de que a segunda maior rede de televisão do país fora retirada das mãos dos seus donos, para ser vendida. Isso acontece pq os donos fugiram do país com mais de 661 milhões de dólares em 2000. Eles quebraram o maior banco do Equador, deixando milhares de pessoas sem o dinheiro depositado em suas contas. Num processo franco, direto e delicado, o governo retirou de todos os donos dos bancos os seus bens para serem leiloados. Os recursos adquiridos nesses leilões serão devolvidos aos cofres públicos. Assim, diminuindo um pouco o prejuízo que o Estado teve ao assumir a dívida dessas famílias de ladrões.

Provavelmente as notícias ao redor do mundo, dizem que essa atitude represente a falta de liberdade de imprensa aqui no Equador. Mentira. Não se deixem enganar. Não é o fechamento de um canal de televisão por decisão do Presidente. É a destituição dos donos por terem roubado milhões de dólares do povo equatoriano.

Devo admitir que o Presidente Rafael Correa encarou com de peito aberto e sem rabo preso, o grande desafio incumbido pelo povo do seu país. Ele realmente retirou o poder econômico e político das elites. Simples assim. Sem tiros, golpes, e com uma incrível capacidade de fazer o povo voltar a querer participar da política do país.

A simbologia e denominação populista que o acompanha é uma vesga, vaga e preguiçosa análise de que ele é um Hugo Chaves. Com a comum falta de capacidade e a tendenciosa visão dos jornalistas brasileiros, avalizada pelos estudiosos das ciências humanas, a população do Brasil coitada acredita.

Rafael Correa cometeu sim atropelos durante a Assembléia ao ponto de conseguir a entrega da presidência por parte do ambientalista e esquerdista Alberto Acosta. Muito parecido com o que aconteceu a Marina Silva. Claro, Correa não pode mais esperar a finalização da Constituição. As forças de oposição conseguem aprender com o tempo a forma de minar o poder conquistado pelo Presidente. Que se candidatou sozinho, sem deputados, sem dinheiro, sem apoio de ninguém, sem partido.

É o renascimento de uma nação. Na verdade, não é um renascimento. É o nascimento. Sonhado por Eloy Alfaro. Líder, pensador, militar, e principalmente um homem simples do povo. Esquartejado vivo, teve seus restos queimados pelos traidores numa praça em Quito em 1918. Esse herói que tem seu nome escrito em ruas de cidades de todo o mundo, inclusive no bairro da Saúde em São Paulo, dá também o seu nome à cidade montada para reconstrução de uma identidade. De um povo. Ciudad Alfaro, onde está localizada a Assembléia Constituinte do Ecuador.