Existem alguns seres que a sua grandeza é tão maior do que o seu desconhecimento. Impressiona ver aqueles que nunca tiveram a oportunidade de se servir de algum tipo de fortuna, se doarem pelos outros.
Isso faz meu ódio só aumentar. Contra mim e meus pares. Cada letra digitada aqui é um pouco de ausência do fazer. Um ser inerte e digitador. O rigor deste destino é denso.
Não consigo letrar. Não consigo registrar minhas idéias aqui. O tema é tão complexo, e sou tão incapaz perante o assunto, que escrevo e reescrevo mil vezes cada sílaba. Mas isso é normal. É uma espécie de autoflagelo, ou algum tipo de boicote natural. Sou um dos que está sentado num barril de pólvora, e ao invés de apagar o fogo, aplaudo os bombeiros evitando que voemos pelos ares.
Alguém um dia ser dará conta de que o fim já terminou. Não haverá Renascimento.
Dentro dos apartamentos, detrás das telas, ao pé dos computadores informalizamos a linguagem da falência. Cada signo dela já nos é comum. Alguns a freqüentam por pena, por medo ou para arrasá-la. Já fiz minha escolha.
Deveríamos realizar intercâmbios culturais verdadeiros. Se queremos alterar o destino das coisas óbvias, nossas crianças alimentadas deveriam passar as férias de julho ao sol. Brincando com brinquedos imaginários. Comendo comida de mentirinha. Tomando banho só quando puderem. Ou só quando chovesse no Lixão. A dureza comercializada nessas pequenas almas só será amolecida por barrigudinhos cheios de vermes da mesma idade lhes oferecendo um copo d´água. Sentir na pele. Esse é o segredo.
Os que escapam de lá, do cárcere, do destino e da fé realizam verdadeiras Cruzadas. Mas sem absolvição no final. Apenas por instinto animal mesmo. Surge ai a arte da sobrevivência, o benefício da solidariedade, e insensatez do conteúdo da sua poesia.