quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Pode ser

Sempre há a possibilidade de vencer. Mesmo que a possibilidade seja uma mentira. Vencer é algo que nós nos disponibilizamos. O prêmio é commodity. Tem preço e tudo mais.

Não vim ao mundo para vitórias. Só há vitórias com a derrota de terceiros. Não quero derrotar ninguém. Há muito trabalho em nossas vidas para travarmos guerras pessoais para sobrevivermos à nossa existência ridícula. Faço o que o palpitar do meu coração determinar. Então, até ele terminar o seu serviço, continuarei.

Não há saída. Não haverá mudança. Não desaqueceremos a terra. Não salvaremos as crianças desnutridas. Não educaremos os analfabetos. Mas não vou ficar aqui esperando. Só quem pode andar é quem sabe como estamos longe. Quem está na platéia, apenas calcula a distância. Vamo aê, vai? Convite sincero e inútil.

Precisar, precisamos. Mas a quem vamos recorrer? A ninguém. Ou você acredita em quem bate palma? Acredite nos que sobrevivem dia após dia levando este continente nas costas. Deixe de lado esperanças prontas. Construa sua própria verdade. Já é um começo.

Dedico esta postagem ao meu tio Carlão. Morto na última terça-feira às 15horas num acidente de Caminhão na Bandeirantes. Não teve tempo de parar. Reduziu sua cabine à algo não compreensível. Homem honesto, humilde. Pai de 4 filhos. Não tive tempo de vê-lo em 20 anos que moro no Brasil. Beijos tio.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Quase sempre

Por mais que tentemos. Por mais que sobrevivamos. Por mais que o destino amenize a grande dificuldade da nossa vida é, apenas, vive-la. Incólume. O vazio da solidão é um consolo quando realmente não temos alguém para preenchê-la. Apenas basta fingir que não somos só nós e o espaço.

Algo nos encontra nos momentos em que sabemos que o ânimo de viver falta. Amigos baratos, recados diretos e tapas nas costas.

Vivo para sempre. Mesmo que seja só para mim.

Há sempre uma esperança na esquina. Na benevolência da travessia de um cego. Pode ser pouco para nós. Mas não conseguimos enxergar na escuridão de quem caminha. Sabemos o que é um passo à luz de céu de brigadeiro. Mas não sabemos como fazer escolhas na turbulência de um dia difícil. Sempre. Sempre.

Como Marvin Gaye. Que teve a sua vida retirada pelo que a concedeu. Entregamos o nosso destino aos mesmos que acreditamos terem nos dado a dádiva da escolha. Para alguns a internet. Para outros a TV.

Espero que cada um de vocês acredite no palpitar do seu coração. Não no barulho do ultra-som. Não precisamos de filtros. Não precisamos de mediadores. Não precisamos que nos digam o que ainda não sabemos. Um dia aprenderemos. Quero saber a dificuldade de ser quem sou. Quero sentir a vida como ela é. Sem a ajuda de ninguém.

domingo, 5 de outubro de 2008

O total das coisas

Há endereços certos para sentimentos. Há distâncias corretas para opiniões. Há critérios esquecidos para credos. A soma de tudo que dissemos e fazemos é o que resulta no que somos. Não acredite na benevolência do espelho, nem no sorriso dos que te querem. Somos sim um erro. A discrepância natural do que existe entre nós e o mundo.

Não há nada além daquilo que é percebido pelos outros. Uma mostra clara da delicadeza de sermos o que somos, é a barateza do nosso caráter. Mas desde que os alheios ao nosso narcisismo não se machuquem estaremos no caminho certo.

A vida é uma. Curta, gasta, poluída e algumas vezes triste. E por ser intransferível, impessoal e imprevisível não perderei tempo. Há sim algumas idéias que debater. Alguns amores que sofrer. Algumas notas que desafinar. Alguns recados para esquecer.

Dos tropeços sobram a dor do impacto, e a certeza de que provavelmente encontraremos a mesma pedra umas quatro vezes mais em nossas vidas. Há uma procura natural em ter que encontrá-la até tombarmos. O segredo é saber cair para ter como se levantar.

É como conviver com a barbárie de torturadores vivos e soltos. É como ver a descrença de um continente com diamantes e sem comida. Associamos ambigüidades para reproduzir a ciência da tolerância. Ciência esta que nos fortaleceu a capacidade de não decapitar um contrário, ou de sobrevivermos às nossas próprias mentiras. Afinal, precisamos não ser selvagens. Como os justos que corrompem.

Não acredito mais na forma das instituições. Há necessidades não de reformas. Não de revoluções. Mas sim de renascimentos. Precisamos recriar a própria essência da nossa existência. Por favor, assistamos ao mundo. Não é concebível viver numa miséria estrutural, moral e prática, sem fazermos algo.

Para que viver assim? Apontemos nossos olhares e fiscalizamos nossos umbigos. Construímos nossa vida como uma Brasília. Para ser solitária, burocrática e cheia de itinerantes que nos cobram caro.

Não aceito mais isso. Quero meu facão. Abrirei minha clareira. Mesmo que as árvores sejam pessoas.